NEIDOCCA

 
belépett: 2010.11.19
"Ser mulher é ser mais forte do que os olhos podem ver. É ter no coração lugar para todos os sonhos do mundo"
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Salvadoras do NADA.....FEMINICÍDIO

    Frequentemente ocorre que, em vez de tentar olhar de verdade um homem e conhecê-lo, a mulher o inventa, o idealiza, o decora com todo o tipo de virtudes. Ás vezes me pergunto que maldito fio solto a maioria das mulheres tem para agir como agimos. Voltei a pensar nisso pela recente tragédia de Zaragoza, na Espanha: o assassinato de Rebeca Santamalia, uma advogada de 47 anos, por José Salvador, de 49, que já havia matado em 2003 sua primeira e jovem esposa. Deu 11 tiros de escopeta na mulher, alguns com o cano encostado na cabeça. Uma carnificina. Nessa época conheceu Rebeca: ela o defendeu no julgamento. Condenado a 18 anos de cadeia, cumpriu 14 e saiu em 2017. Em algum momento desse longo trajeto, a advogada e ele iniciaram uma relação sentimental. Há algumas semanas, esse energúmeno esfaqueou várias vezes Santamalia. Arma branca, ódio sombrio: esse segundo crime parece ainda mais violento e feroz. Na sequência, ele se jogou de um viaduto. Uma pena que não tenha se matado antes.
Rebeca, todo mundo diz, era inteligente, corajosa, generosa. Fico angustiada de pensar que esse triste acontecimento possa ter ocorrido por um mal que afeta muitas mulheres: esse absurdo impulso regenerador que faz com que nos sintamos impelidas a salvar a todo custo os homens. E salvá-los de que? Bom, é aí que começa o problema. Como essa advogada experiente, sensível e lúcida pôde ter se apaixonado por um assassino frio e brutal que, ao que parece, jamais mostrou arrependimento pela morte de sua primeira esposa? Leio no jornal Heraldo que, durante o julgamento, Rebeca se esforçou em mostrar seu cliente como uma boa pessoa, órfão de pai e mãe desde os 13 anos, separado de sua irmã mais nova e com uma infância carente de afeto. Eu não sei se convenceu o júri com tudo isso, mas é possível que, infelizmente, tenha convencido a si mesma. Essa infância de Dickens é o relato perfeito para que a patologia da redentora seja ativada.
Nós mulheres fomos tradicionalmente educadas com uma ênfase tão doentia no amor romântico que tendemos a inventar os amados. E dessa forma frequentemente ocorre que, em vez de olhar de verdade um homem e tentar conhecê-lo, a mulher o inventa, o idealiza, o decora com todo o tipo de virtudes, mesmo que não sejam visíveis para ninguém. Ou seja, é possível que ele seja um grosseiro e um ignorante, mas a mulher se empenha em intuir que, no mais profundo de seu coração atormentado, esse homem é um poeta, um ser afetuoso e sensível. Para piorar, a mulher se convence, excitada, que será ela que irá salvá-lo de si mesmo. Ela curará todas as suas feridas e libertará o prisioneiro interior, o doce amado. O conto clássico já o diz com toda a clareza: as mulheres passam a vida beijando sapos repugnantes com a louca esperança de transformá-los em príncipes.
Há exceções, claro, mas se trata de um comportamento muito espalhado (eu mesma caí algumas vezes em minha juventude em tal demência). Somos mineiras de amor e tentamos extrair paladinos perfeitos da escumalha da realidade imperfeita. E é assim porque fomos educadas no machismo, uma ideologia profundamente patológica que deixa todos nós muito machucados. Porque a síndrome das redentoras não só pode conduzir a sangrentas tragédias (como talvez tenha acontecido com Rebeca), como existem outros dramas cotidianos que também surgem daí. Como diz o comediante francês Arthur, “o problema dos casais é que as mulheres se casam pensando que eles irão mudar e os homens se casam pensando que elas não vão mudar”. Que lucidez terrível! Muitas mulheres estão empenhadas em mudar o amado para que se transforme no formoso príncipe que elas inventaram. Começam a relação acreditando que irão conseguir, mas quando o tempo passa e o pobre sapo continua sendo, como é natural, verde e pegajoso, existem mulheres que se sentem enganadas, sem perceber que elas mesmas se enganaram; e começam a sentir uma raiva desvairada e injusta pelo outro, que por sua vez comprovará, espantado, a mudança aterradora de sua mulher, que agora já não somente não o idolatra como antes e parece até mesmo odiá-lo. Desses sonhos destruídos nascem algumas vezes dores muito profundas, convivências tóxicas. Se queremos brincar de salvadoras, vamos salvar em primeiro lugar nós mesmas das miragens
Rosa Montero.

“Uma das melhores coisas na vida são as maravilhosas surpresas que nos reserva.” ( Marlo Thomas )

https://www.youtube.com/watch?v=1-JxZp5Oons

DIÁRIO DE UM CINQUENTÃO NA ACADEMIA

DIÁRIO DE UM CINQUENTÃO NA ACADEMIA

 

Ganhei de presente da minha mulher um vale-training de uma semana de
treinamento físico em uma academia perto de casa. Apesar de estar em
excelente forma, achei boa a idéia de diminuir a minha "barriguinha". Fiz a
reserva com uma personal trainner chamada Nádia, instrutora de musculação e
aeróbica, e modelo de 26 anos.

Me recomendaram levar um diário para documentar o meu progresso, que a
seguir transcrevo a vocês:

Segunda-feira:

Com muita dificuldade levantei-me às 6 da manhã. O esforço valeu a pena!
Nádia parecia uma deusa grega: ruiva, olhos azuis, grande sorriso, lábios
carnudos e corpo escultural. Inicialmente, Nádia fez um tour pela academia,
mostrando todos os aparelhos. Comecei pela bicicleta ergométrica. Depois de
5 minutos, ela me tomou o pulso e se assustou, pois o coração estava muito
acelerado. Não era a bicicleta não, era Nádia, vestida com uma malha de
lycra coladinha... Curti muito o exercício. Ela me motiva muito, apesar da
dor na barriga, de tanto encolhê-la, toda vez que ela passa perto de mim.

Terça-feira:

Tomei café e fui para a academia. Nádia estava mais linda que nunca. Comecei
a levantar uma barra de metal. Depois se atreveu a colocar mais pesos!!!
Minhas pernas estavam debilitadas, mas consegui completar UM QUILÔMETRO. O sorriso arrebatador que Nádia deu me convenceu de que todo exercício valeu a pena... era uma nova vida para mim.

Quarta-feira:

A única forma como consegui escovar os dentes, foi colocando a escova sobre
a pia e movendo a cabeça para cima e para baixo. Dirigir também não foi
fácil: estender os braços para mudar as marchas era um esforço digno de
Hércules, doía muito o peito e os braços, e minhas panturrilhas ardiam toda
vez que eu pisava o pedal da embreagem. Fisicamente impossibilitado,
estacionei meu carro na vaga para deficientes físicos, até porque saí do
carro mancando... Nádia estava com a voz um pouco aguda a essa hora da
manhã, e quando falava me incomodava muito. Meu corpo doeu inteiro quando
ela me colocou a cadeirinha de escalada. Para que merda alguém inventa um
treco para se escalar quando isso já está obsoleto com os elevadores? Nádia
me disse que isso me ajudaria a ficar em forma e a aproveitar a vida e os
esportes de aventura... ou alguma dessas promessas.

Quinta-feira:

Nádia estava me esperando com seus horríveis dentes de vampiro. Cheguei meia
hora atrasado: foi o tempo que demorei para colocar o tênis. A desgraçada da
Nádia me colocou para trabalhar com os pesos. Quando se distraiu, saí
correndo e me escondi no banheiro. Mandou um outro treinador me buscar e,
como castigo, me colocou na máquina de remar... me ferrei!

Sexta-feira:

Odeio a desgraçada da Nádia. Escrota, anoréxica, anêmica, insuportável e sem
cérebro! Se houvesse uma parte do meu corpo que pudesse se mexer sem
uma dor angustiante, eu partiria no meio essa desgraçada!!! Nádia quis que
eu trabalhasse meus tríceps... E  EU NEM SEI QUE PORRA É ESSA DE
TRÍCEPS!!! Como se não bastasse colocar os pesos para que eu os levantasse,
ainda colocou aquelas merdas das barras...A bicicleta ergométrica me fez
desmaiar e, quando acordei, estava numa maca em frente a uma nutricionista,
outra idiota com cara de mal-comida, que me deu uma catequese de alimentação
saudável...

Sábado:

A lazarenta da Nádia me deixou uma mensagem no celular com sua vozinha de
lésbica assumida, perguntando-me por que eu não fui à academia. Só com a
sua voz já me deu vontade de quebrar o celular, porém não tinha força
suficiente para levantá-lo, pois até pra apertar os botões do controle
remoto da TV estava difícil...

Domingo:

Pedi ao vizinho para ir à missa agradecer a Deus por mim por essa semana que
terminou. Também rezei para que, no ano que vem, a desgraçada e
infeliz da minha mulher me presenteie com algo um pouco mais divertido, como
um tratamento de canal, um cateterismo ou um exame de próstata.

 


O menino de meias vermelhas

Ele era um garoto triste...
Procurava estudar muito...
Na hora do recreio ficava afastado dos colegas, como se estivesse procurando alguma coisa...
Todos os outros meninos zombavam dele, por causa das suas meias vermelhas...
Um dia, o cercaram e lhe perguntaram porque ele só usava meias vermelhas...
Ele falou, com simplicidade...
No ano passado, quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo...
Colocou em mim essas meias vermelhas...
Eu reclamei...
Comecei a chorar...
Disse que todo mundo iria rir de mim, por causa das meias vermelhas...
Mas ela disse que tinha um motivo muito forte para me colocar as meias vermelhas...
Disse que se eu me perdesse, bastaria ela olhar para o chão e quando visse um menino de meias vermelhas, saberia que o filho era dela...
Ora, disseram os garotos...
Mas você não está num circo...
Por que não tira essas meias vermelhas e as joga fora?...
O menino das meias vermelhas olhou para os próprios pés, talvez para disfarçar o olhar lacrimoso e explicou...
É que a minha mãe abandonou a nossa casa e foi embora...
Por isso eu continuo usando essas meias vermelhas... Quando ela passar por mim, em qualquer lugar em que eu esteja, ela vai me encontrar e me levará com ela...
Muitas almas existem, na Terra, solitárias e tristes, chorando um amor que se foi...
Colocam meias vermelhas, na expectativa de que alguém as identifique, em meio à multidão, e as leve para a intimidade do próprio coração...
São crianças, cujos pais as deixaram, um dia, em braços alheios, enquanto eles mesmos se lançaram à procura de tesouros, nem sempre reais...
Lesadas em sua afetividade, vivem cada dia à espera do retorno dos amores, ou de alguém que lhes chegue e as aconchegue...
Tem sede de carinho e fome de afeto...
Trazem o olhar triste de quem se encontra sozinho e anseia por ternura...
São idosos recolhidos a lares e asilos, às dezenas...
Ficam sentados em suas cadeiras, tomando sol, as pernas estendidas, aguardando que alguém identifique as meias vermelhas...
Aguardam gestos de carinho, atenções pequenas...
Marcam no calendário, para não se perderem, a data da próxima visita, do aniversário, da festividade especial...
Aguardam...
São homens e mulheres que se levantam todos os dias, saem de casa, andam pelas ruas, sempre à espera de alguém que partiu, retorne...
Que o filho que tomou o rumo do mundo e não mais escreveu, nem deu noticia alguma, volte ao lar...
São namorados, noivos, esposos que viram o outro sair de casa, um dia, e esperam o retorno...
Almas solitárias...
Lesadas na afetividade...
Carentes...
Pense nisso...
O amor, sem dúvida, é lei da vida...
Ninguém no mundo pode medir a resistencia de um coração quando abandonado por outro...
E nem pode aquilatar da qualidade das reações que virão daqueles que emurchecem aos poucos, na dor da afeição incompreendida...
Todos devemos respeito uns aos outros...
Somos responsáveis pelos que cativamos ou nos confiam seus corações...
Se alguém estiver usando meias vermelhas, por nossa causa, pensemos se esse não é o momento de recompor o que se encontra destroçado, trabalhando a terra do nosso coração...
A maior de todas as artes é a arte de viver juntos...


UM BELO POEMA DE FAUZI ARAP

 

 

Eu vou te contar, que você não me conhece.
E eu tenho que gritar isso, pq. você está surdo e não me ouve.
A sedução me escraviza a você, ao fim de tudo você permanece comigo, mas presso ao que eu criei e não à mim.
E quanto mais falo sobre uma verdade inteira um abismo maior nos separa.
Você não tem um nome , eu tenho, você é um rosto na multidão e eu sou o centro das atenções.
Mas a mentira da aparência do que eu sou e a mentira da aparência do que você é.
Por que eu, eu não sou o meu nome e você não é ninguêm.
O jogo perigoso que eu pratico aqui.
Ele busca chegar ao limite possível de aproximação.Através da aceitação da distância e do reconhecimento dela. Entre eu e você existe a notícia, eu me dispo da notícia e a minha nudez parada te denuncia e espelha.
Eu me relato, tu me deladas, eu vos acuso o confesso por nós.
Só assim me livro das palavras com as quais você me veste.

Fauzi Arap