Eu tenho uma espécie de dever
de dever de sonhar
de sonhar sempre,
pois, sendo mais que uma espectadora de mim mesma
eu tenho que ter o melhor espectáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas,
em salas supostas,
invento palco, cenário
para viver o meu sonho,
entre luzes brandas e músicas invisíveis.
Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite provável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã este chão que eu deixei
Por meu leito e perdão
Por saber que valeu
Delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão.