Lucélia, a gente precisa conversar.
- Agora, Adamastor?
Agora eu...
-Tem de ser agora
– cortou ele.
– Nossa relação está em crise, precisamos falar sobre ela.
- Relação? Crise? Você enlou...
-Deixa eu falar, tá ok?
– cortou Adamastor de novo.
– Depois você fala
– e prosseguiu:
- Lucélia, é hora de discutir a relação, a gente tá junto faz tempinho e nunca fez isso.
Sei que sou um ótimo amante, que quase sempre a leva ao orgasmo
– e, quando isso não acontece, não é por culpa minha.
Mas acho, acho não, sei que você devia me amar mais, tanto quanto eu a amo.
Sei lá, às vezes sinto que você me vê como uma máquina de fuder, um objeto!
- Mas Adamastor, você é um objeto!
É um vibrador!
- Eu só vibro porque me emociono de estar dentro de você, na sua xana!
– ele pareceu respirar fundo (algo dificílimo para um vibrador, ainda que falante) e continuou:
- Olha, sei que não sou uma pessoa de carne e osso, mas tenho sentimentos.
E você, ao me tratar como um simples objeto sexual, está pisando nesses sentimentos
– E, num tom raivoso.
– O pior é que você nem é fiel a quem a ama tanto.
Já vi você dando olhares tesudos para o Linguinha...
- Linguinha?
- É o nome que dou àquele sugador de clitóris filho da puta.
Não negue, sei que está pensando em fazer sacanagens com ele...
Lucélia riu, acariciou o vibrador e deu-lhe um beijinho na ponta (do nariz? do cacete? difícil precisar, em se tratando de um vibrador).
- Ora, Adamastor, pensar não é pecado e não tira pedaço.
Mas só amo você e só faço com você.
Não esquenta, senão você fica tão chato quanto meus ex-ficantes humanos.
E você não é chato, é cilíndrico!
– Deu um risinho, satisfeita com sua piada, e concluiu.
– E agora tenho de sair, vou encontrar minhas amigas.
Tchau, amore.
Ao caminhar em direção a um barzinho próximo, onde ia encontrar a galera, Lucélia ficou pensando: por que diabos não se espantara ao ver um vibrador falar?
Algumas hipóteses vieram à sua mente.
Na adolescência, gostava de pintar, e dava nomes às tintas que utilizava.
Não às tintas industrializadas, mas às misturas que ela produzia.
O verde, por exemplo, era o verde que te quero verde, único verso que conhecia de um famoso poema do espanhol Federico García Lorca.
Ela sempre sentira que nomear as cores as tornava mais vibrantes, mais vivas; vai que algo parecido acontecera quando deu o nome de Adamastor – o gigante de Os lusíadas, de Camões – a seu brinquedinho sexual predileto, também avantajado?
Outra hipótese: maconha.
Estava fumando muito, todos os dias, e talvez os cigarrinhos do cramulhão a fizessem ver e ouvir coisas.
Terceira hipótese, estava enlouquecendo pouco a pouco.
Mas ainda não rasgava dinheiro nem mordia cachorros na rua, então, por enquanto, dava para levar.
Lucélia voltou para casa às 22h30.
Tomou um banho, perfumou-se toda, pegou o consolo (tinha certeza de que Adamastor detestava esse nome, mas foda-se, já estava dando muita moral a ele por nem olhar na direção da caixa do Lin... do sugador de clitóris), deitou na cama só de calcinha, afastou-a, introduziu o bruto na xoxota e o ligou.
Estava sendo uma delícia e, como quase sempre fazia, ela começou a elogiá-lo:
- Ah Adamastor, você é que é imbrochável, não aquela besta do Bozo.
Me fode gostoso!
O motorzinho pareceu ratear, depois parou, e ouviu-se uma voz lastimosa:
- Custava dizer que me ama, malvada?
E Adamastor, o consolo gigantesco, o imbrochável, brochou dentro de Lucélia.
CarlWeiss
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